sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Eu e a Outra


No espaço da memória,
Esbarro com uma e com outra
Uma gosta de agir
A outra de contemplar.
Uma gosta de ficar
A outra de sair,
Uma sonha com o passado,
A outra se lança ao futuro.


Se uma abre os braços.
Voa com o vento,,
Acredita no gesto grande
E ocupa todo o espaço,
A outra se intimida
Se fecha , e busca dentro
O que necessita como alimento.


E com o tempo,
As duas, sem perceber, se unem.
Encontram no micro e no macrocosmo,
Inspiração e força.
E vão pela vida,
Aprendendo a ser e a viver
Dois tempos


Lembranças do parque e da praça
Acolhedora sombra
Pernas enlaçadas
Corpo vivo
Pele, carne, ossos
Entrevistos... Fachos de luz

Na casa o silêncio perfumado das frutas
Plantas, móveis, livros
Imóveis à espera,
A sonoridade de um bebê.

Que vida seria a minha,
Aquela, a outra que não vivi?

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

ENVELHECER


Sobre os ombros,
Os cabelos,
Minha face,
Desce, lentamente,
Um pouco cada dia,
Uma nuvenzinha branca,
Algodão do tempo.
Bruma de outono.


Perdem a nitidez, os contornos,
os traços do rosto,
As linhas do corpo.
O que era são, transforma-se:
Emaranhados e nós é o que resta
Aos nossos órgãos e ossos.
Ficam lentos os passos,
A ação dá lugar à contemplação


E turva-se o mundo,
Em sintonia
Com o calor que cresce,
Oriundo
Da refulgente chama interna.

Depois de um longo e tenebroso inverno...

BRANCO


Ocultos pelo intenso branco
Todas as cores,
As linhas que fiz e desfiz,
Os pensamentos que não se tornaram atos,
As palavras que não escrevi.


Revelados pelo branco
O esplendor de uma manhã de abril,
A renda desenhada pela espuma do mar,
Os rastros do tempo na areia.
A clareza de algumas idéias
A certeza do caminho percorrido.